Inconfidentes ou confidentes?
Os bastidores da execução de Joaquim
José, Patrono Cívico do Brasil, ou simplesmente Tiradentes, visitam minha memória
neste histórico ano de 2012. Fatos políticos na pauta do dia, sobretudo o
julgamento do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, revelam que pouca coisa
mudou, muitas pioraram, mas que o espírito republicano se mantém vívido graças
a preciosas brasas encontradas no lamaçal em que vis políticos insistem em
conduzir nossa sociedade.
Tiradentes foi considerado líder
de um movimento que buscava a libertação de uma metrópole opressora que
tributava em vinte por cento os colonos. Pagou com a vida o crime/pecado de
gritar por liberdade, de denunciar que o Quinto era destinado a manutenção dos
privilégios da família real portuguesa e de seus duques, marqueses, viscondes,
condes, barões e outros fidalgos acostumados à vida palaciana desde o reinado
de Dom Afonso VI (1072-1109), Rei de Leão.
Atualmente os brasileiros, “cidadãos”
de um Estado Republicano e Democrático, pagam mais tributos do que os antigos
colonos e que cidadãos de todos os demais países emergentes, aliás, nossa carga
tributária é maior do que a do Japão e Estados Unidos. Segundo estudos do
Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), publicados na página
eletrônica do jornal Folha Vitória, os impostos representam até 83% do preço de
produtos populares, ou seja, apenas substituímos a aristocracia portuguesa pela
burocracia brasileira. Trabalhamos 150 dias por ano para pagar tributos e receber obras e serviços públicos precários num país que faz novos milionários a cada mandato.
A alta carga tributária que
pagamos não possui contrapartida equivalente por parte dos serviços prestados
pelo Estado brasileiro. Todos os dias milhares de brasileiros morrem
precocemente devido à falta de tratamentos médicos adequados, estradas sem
manutenção. Crianças são empurradas num sistema educacional que despeja a
própria sorte milhares de analfabetos funcionais, apensar dos orçamentos
bilionários destinados a Educação e Saúde.
Não consigo me acostumar com a
falta de indignação dos brasileiros ante as notícias recorrentes sobre evasão
de divisas oriundas do desvio de verbas públicas. Dois séculos após a morte de
Tiradentes, o brasileiro continua trabalhando para manutenção de privilégios e
enriquecimento ilícito de uma elite corrupta. Esses milhões de euros que Rosemary Noronha, chefe do gabinete presidencial em São Paulo, levou pra Portugal (http://surgiu.com.br/noticia/60114/rosemary-noronha-entrou-em-portugal-com-malote-de-25-milhoes-de-euros.html) se
equipara a um carregamento moderno do Quinto, a diferença é que o tributo
imperial, apesar de seu peso, era legítimo enquanto esse dinheiro tem cheiro de evasão de divisas.
A história da indignação do
inconfidente Tiradentes se repete atualmente com os atos republicanos e
democráticos do confidente Joaquim Barbosa. Mais uma vez a voz de um mineiro se
levanta ante a um sistema corrompido que não interessa a ninguém. O dinheiro adquirido de forma honesta ou
ilícita já não garante a segurança nos condomínios de luxo e qualquer um pode
ter a vida ceifada por um indivíduo que teve negado o direito ao processo de
humanização, pelo simples fato de se assustar ao ser assaltado.
Uma coisa é certa, precisamos
urgentemente de nossa Revolução Cultural. Não dá para acreditar na impunidade
perpétua, afinal uma das finalidades das penas é servir de exemplo para que
iniba aqueles de mente má formada ante ao projeto de viver criminosamente. Os
brasileiros de mãos limpas, que são maioria esmagadora em nossa sociedade, precisam
entender que não são vítimas de nada, além de sua própria covardia e omissão.
Somos autores de nossa realidade e nossos atos influenciam na vida daqueles que
virão depois de nós, portanto é urgente ter como meta que o exemplo do ministro
confidente, Joaquim Barbosa, não pode ficar congelado por mais dois séculos.
Ricardo
Cidadão dez/2012.